Inovação marca volta da cantora ao cenário musical |
Há tempos que a fórmula pop que atingiu o final dos anos noventa não tem dado bons resultados. Quem tentou continuar, não sobreviveu ao que o mercado musical exigiu. A grande questão é: porque e como Britney Spears se deu bem¿ Mundialmente, a cantora vendeu mais de 100 milhões de discos e a cada ano bate seu próprio recorde. Além disso, a loira muda constantemente e ao invés de seguir uma tendência ela é quem faz.
A prova disso é seu disco de 2007, Blackout, lançado na pior fase de sua vida – com o agravante da perseguição midiática – foi considerado pela Rolling Stone americana o “álbum da década”. De acordo com a revista, o quinto cd de Britney Spears mudou o som e trouxe um ar mais fresco e inovador para o mundo da música.
Já em 2008, depois da fase ruim, era hora de mudar a imagem. O lançamento de ‘Circus’ foi totalmente calculado e foi considerado o trabalho mais seguro de Britney. Não era para menos, era um álbum mais conceitual, temático e passava a mensagem “oi, estou aqui e estou bem”.
Em ‘Femme Fatale’, lançado nesta terça-feira (29), ela volta a todo vapor e traz seu melhor trabalho – pelo menos é o que a imprensa internacional diz. O GB concorda, o sétimo álbum de Britney Spears demorou dois anos até ser completado e mostra uma cantora engajada e com muito mais atitude. Aliás, quando trata-se de música, ela não desaponta.
Você pode ter vergonha de admitir que gosta e escuta Britney Spears, mas não pode diminuir seu talento e sua influência na indústria musical. Outro ponto muito destacado durante anos foi seu vocal; tecnicamente falando, a cantora pode não ter uma voz potente, mas usa toda sua habilidade para dar o toque especial nas canções e mostrar todas suas cores em cada faixa.
De fato, ‘Femme Fatale’ é um álbum coeso e progressivo, pois traz gêneros musicais dificilmente usados por artistas mainstream, como o dubstep, trance, rock; os tambores africanos ou até mesmo a influência folk. Mas não se engane, são apenas elementos de cada gênero e é exatamente o que torna o CD mais interessante a cada escutada.
Till The World Ends é o primeiro hino de baladas de Britney. Escrita com a ajuda de Ke$ha, a canção não poderia ser sobre outra coisa além de dança. Segundo single da cantora, a faixa é convidativa e seus repetitivos “oh-oh-oh” grudam na cabeça com facilidade. Aqui, fica claro o segmento do álbum e como seu som vai até o fim: up-tempo.
'Hold It Against Me' tem tantos elementos que a tornam única. Um baixo pulsante e uma guitarra elétrica parecem ser os instrumentos até o breakdown. Os vocais são agressivos até o refrão, que pode ser cantado facilmente com apenas um piano. A primeira introdução ao dubstep acontece nesta faixa. Britney manda beijo, sussurra enquanto a batida proporciona um choque elétrico aos ouvidos. É ágil e infectante e só melhora com a chegada dos vocais. “Não quero esperar, quero agora!”, a cantora demanda e ela não está brincando.
As coisas acalmam com 'Inside Out', uma canção sobre sexo-antes-do-término. “Você não vai deixar algo a ser lembrado?”, canta Britney num tom quase implorativo. Aliás, o dubstep é encontrado apenas no breakdown da faixa dois, do começo ao fim. Afinal, a faixa foi produzida por Billboard – reconhecido como o melhor produtor do gênero.
‘Femme Fatale’ recupera o fôlego com ‘I Wanna Go’. Que possivelmente será conhecida como “a canção do assobio”; no melhor estilo Bob Sinclair. E boa sorte para tirá-la da cabeça – o assobio é um problema – enquanto Britney canta com uma voz nasalada num estruturado staccato: “culpa minha (assobio) por precisar me libertar (assobio) incontrolavelmente (assobio)”.
Um dos produtores do hit ‘Toxic’, o Bloodshy, oferece um dos sons mais inusitados, tanto para a cantora quanto para os ouvintes. ´How I Roll´ é totalmente progressiva e não se parece nada com o que você já ouviu por aí. Cantada num tom monótono, enquanto a palavra ‘speakeeeeeeeers’ torna a canção viciante. Sente num bar com um grupo de amigos, pegue uma caixa, palitos de fósforos e qualquer coisa que faça barulho, sincronize a batida enquanto canta “bambambam bararirabambam”, pronto! você terá How I Roll.
Em '(Drop Dead) Beautiful' Britney canta (quase um rap) sobre os dotes masculinos em efeitos robóticos. Britbot aparece aqui em máxima potência enquanto dispara: “o que eu estou vendo agora faria até uma garota grande chorar”. É hilária. Já em ´Seal It With a Kiss´ o dubstep retorna mais suave, enquanto pegajosos “OhOheeooh” fazem todo o trabalho pela canção.
Britney nunca escondeu sua paixão pelo grupo Black Eyed Peas, e dessa vez teve a chance de trabalhar com Will.I.Am. O resultado foi ‘Big Fat Bass’, uma canção que parece ter sido retirada de ‘The E.N.D’, só que com mais evolução. São mais de quatro minutos, onde a cantora repete muitas vezes. “Está crescendo, o baixo tá crescendo”, no idioma dela faz mais sentido e provavelmente o assunto é mais subjetivo do que as pessoas podem perceber. ‘Big Fat Bass’ tem o potencial de atingir o mesmo sucesso que outras músicas do BEP, pois tudo que Will.I.Am toca vira ouro (sendo bom ou não). Vale ouvir com atenção, aqui você encontra pelo menos três canções em uma só.
‘Trouble For Me’ pode te surpreender. A voz de Britney é o destaque de tão potente e agressiva. As ‘piruetas’ vocais normalmente feitas por outras cantoras podem ser encontradas aqui. No entanto, os efeitos eletrônicos as escondem é preciso atenção para percebê-los.
O trance faz sua primeira e única parada no álbum. Com uma batida mais européia e muito mais consumida por lá, ‘Trip To Your Heart’ é quase uma canção romântica se retirarmos os sintetizadores e backing vocals distorcidos e deixarmos apenas o vocal principal, cantado de uma forma suave. Bloodshy (‘Toxic’, vale lembrar) sempre traz algo novo e possivelmente você também não encontrará esse tipo de música facilmente.
‘Gasoline’ é interessante. A história é simples: uma mulher movida a gasolina (não no sentido literal, quer dizer adrenalina mesmo). A letra é cantada sobre rifs de guitarra, algo não muito comum no mundo de Britney.
‘Criminal’ começa com uma flauta dando à faixa um tom medieval, até a chegada dos acordes do violão e bateria mais acústica. Aliás, essa faixa deve ser a que mais mostra o talento de Britney como vocalista. É uma canção quase triste, quando a cantora explica que está apaixonada por um criminoso. ‘Criminal’ evoca trabalhos mais antigos de Madonna, como ‘Love Profusion’.
Pronto. A partir daqui são as faixas bônus, encontradas na versão deluxe de ‘Femme Fatale’. Rodney Jerkins (Say My Name) não quis saber de autotune e deu a Britney duas canções que mostram um lado totalmente diferente da cantora. Enquanto ‘Don’t Keep Me Waiting’ tem uma pegada totalmente rock e conta com a participação de Travis Barker, o baterista do Blink 182, ‘He About To Lose Me’ usa os vocais mais puros e fortes que alguém já ouviu da loira em anos. A batida de tambores remete a um estilo mais africano estruturadas sob riffs de guitarra e sintetizadores.
Em ‘Selfish’, Britney conta com a ajuda de Stargate, o grupo de produtores por trás de ‘Don’t Stop The Music” e “Only Girl” de Rihanna. A semelhança não é mera coincidência. Já ‘Up N’ Down’ a cantora fala sobre pole dance e relembra as batidas dos anos 90. ‘Scary’ – última faixa do album’– pode ser considerada o ‘Thriller’ da loira, ao utilizar elementos parecidos com a canção do Rei do Pop, Michael Jackson, que dão um ar ‘tenebroso’ à faixa.
Fica claro que este é o melhor álbum de Britney Spears se levarmos em consideração os arranjos, a produção vocal e os elementos progressivos introduzidos aos ouvintes de artistas mainstream. ‘Femme Fatale’ é ousado e inovador e prova que Britney não perdeu a mão quando o assunto é música.
Veredito GB: 4.5 de 5
Ártista: Britney Spears
Álbum: Femme Fatale
Lançameto: Março 2011
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