Opinião: Realengo, 10 anos depois

A realidade do massacre na escola do Realengo só será exposto daqui 10 anos
O caso de Realengo me lembra muito o sequestro do ônibus 174, em 2000. Onde um rapaz aparentemente drogado subiu ao coletivo e fez de reféns diversas pessoas. O resultado foi uma ação desastrada do BOPE, com a morte do sequestrador e da refém Geísa Firmo Gonçaves.

Odiado durante um bom tempo, o exemplo do sequestrador foi explorado pela mídia naquela semana para expor a falta de segurança no Estado do RJ.


Posteriormente foi comprovado que o tiro pela submetralhadora MP5 do soldado do BOPE, disparado para acertar Sandro, pegou de raspão em Geisa. Sandro se assustou e ao se abaixar, deu três tiros fatais nas costas e no peito de Geisa com seu revólver .38, mesma arma usada pelo atirador da escola carioca na semana passada. Coincidência ou não, Sandro, foi asfixiado na viatura. Levado ao hospital, o sequestrador não resistiu aos ferimentos e morreu.

Como se já não fosse bastante o incidente entre polícia-refém-sequestrador, pouco se sabia sobre o rapaz 
que subiu armado no ônibus. Mas, depois descobriram que este moço era Sandro Barbosa do Nascimento, sobrevivente do massacre da Candelária, em 1993, realizado por policiais em moradores de rua. 

Vale lembrar, essa história só foi abordada na íntegra no documentário "Ônibus 174", dirigido por José Padilha, mesmo diretor de Tropa de Elite.

Portanto, quando eu vejo, vídeo no YouTube, carta de suicídio e o perfil no Orkut do Wellington Oliveira eu me pergunto, onde nós falhamos? Quem realmente era Wellington Oliveira? O que fez esse jovem preparar uma atrocidade de tal proporção?

Falaram muito em bullying, pergunto se há algum fator além do bullying. Isso só o tempo dirá, e uma investigação apropriada longe dos olhares do grande público, apreensivo por resposta confortantes. Quando na maioria das vezes elas são mais profundas e dolorosas, como no caso do jovem Sandro, que nós, a sociedade, ignoramos e esquecemos.
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